João Lucas e Marcelo colhem os louros do sucesso gerado nos campos de futebol paulista (Foto: Marcel Bionche)
Durante dez anos, eles tentaram decolar como cantores defendendo o
sertanejo de raiz. Há um ano e meio juntos, João Lucas e Marcelo
resolverem seguir os mandamentos da cartilha de
Michel Teló.
“Quem gosta de sertanejo de raiz é um público mais velho e caipira. Pra
fazer sucesso, é preciso cantar o que a galera jovem pede. Resolvemos
seguir o mesmo caminho pra ver se conseguíamos”, disse João Lucas,
durante entrevista ao
G1 por telefone.
Para tal, compraram o direto de regravar
“Eu quero tchu, eu quero tcha”,
sucesso de Shylton Fernandes, da banda Forró Safado - prática quase
obrigatória do atual "sertanejo de pegação". O hit, como não poderia
deixar de ser, já veio acompanhado de coreografia. Com o material
adaptado em mãos, era só produzir o clipe e torcer para que a
onomatopéia musical chegasse aos ouvidos do maior difusor popular: o
jogador Neymar.
Ouça aqui o "hit do Neymar".
Confesso que tô com pressa para ganhar dinheiro, mas ainda não consegui arrematar uma casa pra minha família"
João Lucas
Ao comemorar o 100° gol pelo Santos, ele fez os passinhos da dança.
Bracinhos pra cima e uma reboladinha de segundos renderam à dupla a
possibilidade de, finalmente, ganhar dinheiro. João Lucas revela que
ainda não deu pra comprar nada, mas não esconde a ansiedade. “Confesso
que tô com pressa para ganhar dinheiro, mas ainda não consegui arrematar
uma casa pra minha família. Não tenho nada, só um carro.”
Novos ricos
A meta, entretanto, é estacionar um jatinho na garagem para atender à
nova demanda de shows. Após a divulgação em rede nacional feita por
Neymar, a dupla recebeu propostas internacionais de produtores em
Portugal, Romênia e Itália.
Em território nacional, o artilheiro do Santos reforçou seu efeito
Midas. O que ele dança, de fato, vira ouro. Antes da comemoração, os
sertanejos faziam apenas oito apresentações por mês. Agora, já são mais
de 20. O caminho é o mesmo de "Ai se eu te pego", que ganhou o mundo
depois da dancinha de Cristiano Ronaldo.
O poder de multiplicação transforma os jogadores de futebol em novos
padrinhos do sertanejo. Para João Lucas, que já teve duas duplas antes
de se juntar a Marcelo, cair no gosto musical de Neymar é a forma mais
eficiente de alavancar a carreira.“Os jogadores são os novos padrinhos
mesmo, é a melhor forma de fazer sucesso e decolar. Seremos eternamente
gratos ao Neymar.” A gratidão - e a exposição - fizeram a dupla colocar o
nome do jogador na letra da música, que não hesitam em apresentar
também como "hit do Neymar".
Grande encontro
Marcelo é compositor conhecido no mercado. Já fez canções para
Luan Santana
e Victor e Leo, mas penou até encontrar uma segunda voz ideal. Conheceu
João Lucas em uma festa de aniversário de amigos na cidade de Aruanã,
Goiás, em 2010. Ambos encerravam parcerias de insucesso com outros
cantores. “A gente não vingava”, explica João.
Em janeiro de 2011, com a dupla formada e empresário contratado, eles
gravaram o primeiro CD. O disco não estourou como previsto e os rapazes
foram atrás de um “hit pegação”. Ouviram na internet a música de Shylton
e entraram em contato com o compositor.
João diz não saber o preço pago ao dono de “Eu quero tchu, eu quero
tcha”. O acordo garante a exclusividade de cantar a versão, mas os
direitos permanecem de Shylton. “Nosso empresário que fez tudo, não sei
quanto foi. De qualquer forma, valeu cada centavo.”
Regravaram inicialmente em versão forró, mas não gostaram do resultado.
Decidiram misturar o arrocha com uma batida de funk e apostaram.
Lançaram novamente o CD, incluindo o hit e mais algumas faixas inéditas.
Agora, começam a mensurar os resultados de vendas.
Toque de caixa
João garante que ele e seu parceiro reconhecem a baixa qualidade
musical dos hits de verão, mas acredita ser o único caminho para
manter-se no mercado. “Ou abraçávamos isso, ou ficávamos pra trás.”
Confortáveis com a fama, eles pretendem abusar do potencial de “Eu
quero tchu, eu quero tcha” até o seu esgotamento. Na gaveta, já está
pronta uma música muito similar, composta pela dupla juntamente com
Shylton. Letra e melodia foram feitas em menos de 24 horas. “A batida é
bem parecida, letra fácil e melodia simples também. É a forma que
encontramos de manter o sucesso.”
Além do material, eles contrataram uma coreógrafa para que Marcelo, o
mais travado da dupla, solte o quadril em cima dos palcos. “Meu parceiro
não dança nada. Eu engano um pouquinho, mas ele é primeira voz e
precisa se concentrar. Estamos com uma professora de dança, e vamos
fazer aula duas vezes por semana. Se a gente dança, a mulherada se
empolga e reproduz a coreografia. Isso ajuda muito, pois 90% do nosso
público é feminino.”